Dia #01 - Sinto muito!
- Aline Pastori
- 10 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de fev. de 2023

Começo dizendo que sinto, e sinto muito!
Sinto muito, porque eu falhei.
Eu falhei achando que conseguiria, eu falhei achando que nunca falharia em algo que já dominava, que já era rotina.
Eu sinto muito, mas não dei conta, eu sinto muito porque me joguei fora por um tempo, junto com o sentimento de fracasso, com a dor da incapacidade que bateu na minha porta, só porque não dei conta.
Eu, que sempre sentia meu olho brilhar e meu coração se alegrar quando estava para o outro, falhei.
Falhei porque meu julgamento sobre mim mesma falhou, falhei porque não soube dividir o que estava sentindo, falhei porque me culpei do silêncio, ironia, justo eu, que sempre fui capaz de ouvir e de falar, a comunicação nunca foi um limitador, mas desta vez limitou.
Mas eu verdadeiramente falhei, e falhei feio, acredite! Mas não porque não tive forças para cumprir o que precisava cumprir.
Eu falhei feio porque me joguei fora, porque me desvalorizei por não conseguir seguir no mesmo ritmo, desmereci um trabalho de uma vida, um servir de uma vida.
Eu falhei porque não dei conta, e ao invés de simplesmente me acolher, como fui capaz de acolher a muitos, durante muitos anos, eu me abandonei. Síndrome da impostora.
Mas agora tudo bem, e agora, bem mesmo, já posso dividir, porque é um bem de verdade, um bem que é um bem maior, algo precioso e raro, que só se acessa no silêncio e na renúncia, na renúncia mais profunda, esta que não é de coisas e situações, a renúncia de si mesmo.
Descobri que quando nos vemos honestamente frágeis e incapazes algo curiosamente estranho acontece...
Somos capazes de deixar ir aquilo que antes parecia ser escada de subida, mas na verdade já havia se tornado prisão. Mas que bom, a torre se desfaz, e a consciência dolorosamente se liberta, e descobrimos que somos todos iguais, humanamente falhos e humanamente dignos de algo melhor, ainda que por um momento tudo pareça caos.
Não, não sou a mesma de ontem, estou em tempo de realmente sentir muito, que bom, a pouco tempo eu não estava sentindo quase nada, a pior dor é a da ausência, do não sentir e não compreender.
Mas agora sigo bem, me peguei de volta, e estou serenamente feliz. Me parece que na maturidade a euforia se desfaz. Me parece uma nova construção, mas sinto que o que está nascendo só é possível porque o raio de Deus tocou a torre e ela se desfez. Amém.
Tem algo muito precioso em tudo isso... O novo que é novo não se encaixa mais ao velho, não é remendo, mas uma novo tecer, e nele, neste novo tecer sinto que ainda posso usar tudo que vivi, posso usufruir de alguns fios, que me parecem de ouro, nesta nova formação (forma/ação).
Não sei o que vai ser, mas tão pouco me interessa, pois já entreguei meu coração a esta nova jornada, a tristeza enfraquece os moldes pré-estabelecidos, e assim nos entregamos, não resistimos, e nos rendemos ao essencial, não porque queremos, mas porque é o possível.
Por hora, sigo me fortalecendo, colocando antes de tudo, toda a força e todo o foco que agora tenho na resolução e nas entregas do que não me foi possível, já está sendo feito, estou aqui, fui resgatada pela generosidade da vida, das pessoas e pela criatividade que nasceu da renúncia de mim mesmo.
A beleza do vazio é que só ele pode ser preenchido, e em algum momento, quando estiver cheio novamente, vai transbordar. Ciclos inevitáveis.
Eu sinto muito, a Vida é muito maior do que nós, que eu e você, e eu estou com ela, tateando o novo, na certeza de que quem tem vida tem tudo, o que sobra são alegorias que se tornarão boas ou má memórias. Eu sigo escolhendo as boas, e desejo a você o mesmo.
Vem comigo? Há muito para ser dito, na mesma proporção do silêncio a ser sentido. Duas faces, duas fases de uma única história.
No exercício do amor.
Aline Pastori
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Forte e corajoso! Esse texto me fez refletir muito e lembrar que os ciclos são inevitáveis mesmo cabe a nós vivermos com todo nosso coração.
Muito obrigada.
Que texto lindo Aline ! Forte e diria até difícil e bem corajoso . Pra mim foi impactante pq conforme fui lendo , parecia que eu estava diante de um espelho olhando e falando tudo isso para mim . Através de suas palavras fui reconhecendo o meu próprio sentimento . Gratidão por nos entregar tanto . Bjs carinhosos .
Hoje me peguei pensando em como a vida é uma alta aposta ou um alto risco que todos dias corremos, então, viver é isso, é se arriscar todos os dias em ser feliz ou não, em ser saudável ou não, em ser alegre ou não, em estar vivo ou não, tudo é uma questão de como conseguimos nos colocar nesse mundo, o que é um desafio diário, por isso, Aline, não se culpe, apenas viva seu momento e aposte no seu recomeço. A sua renúncia já é um ato extremamente corajoso por si só. Boa sorte e um recomeço cheio de maravilhosas possibilidades.
Com o seu primeiro dia do sinto muito me lembrei do Hoponopomo.
Quantas vezes nos pegamos sentindo muito.
Lindo seu texto.
Com carinho.
❤
Que preciosidade de texto Aline, todas nós sentimos muito em alguns ou vários momentos de nossas vidas e você se mostrou forte compartilhando a vulnerabilidade vivenciada nos últimos tempos. Suas palavras trazem conforto pra mim, me faz enxergar o auto amor e a vulnerabilidade que também existe aqui!
Gratidão!
Receba meu carinho, um beijo !!